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Por Sophia Noronha

“Meu caminho é a apicultura” foi uma das primeiras frases que ouvimos na reunião de iniciação do projeto.

A apicultura é uma atividade tradicional, passada de geração em geração, o que a torna parte da identidade cultural das famílias e comunidades. Além disso, a apicultura tem uma série de benefícios ambientais, como a polinização das plantas, o aumento da produtividade agrícola, a manutenção da biodiversidade, entre outros. Por último, é essa atividade que faz o mel chegar na nossa mesa, em forma de alimento ou de remédio, como tantos outros produtos apícolas – o própolis, a cera, a geleia real…

O Programa Néctar do Futuro é uma iniciativa da Gerdau para que apicultores possam trabalhar dentro das florestas de eucalipto da empresa, gerando renda e desenvolvimento local, além de acarretar no uso múltiplo do solo e maior sustentabilidade. Dessa forma, as abelhas aproveitam o néctar das flores do eucalipto e nós aproveitamos uma parte do que as abelhas produzem!

Para que o programa começasse, foi necessário juntar os apicultores em associações. Esse processo não foi simples, já que cada produtor trabalhava sozinho ou com o apoio da sua família. A criação de uma associação requer que os participantes tenham uma visão coletiva, além de um vasto conhecimento jurídico, administrativo e contábil.

A Mandu entrou na história em 2021, quando começou a apoiar duas associações do Programa Néctar do Futuro, a APIS Minas, dos apicultores de Andrequicé, e a APIONG, dos pequenos apicultores de Olhos D’Água. 

No processo de um ano, foi utilizada a Metodologia de Aceleração de Negócios Comunitários da Mandu, de maneira cuidadosa e personalizada em cada um dos casos. Iniciamos por um diagnóstico das associações, além de realizar um mapeamento socioeconômico dos produtores e analisar o ecossistema de políticas públicas. Sabendo de onde viemos e o que somos, podemos pensar em para onde vamos. Assim, se deu o início do planejamento!

Na etapa de planejamento, alinhada com a Teoria de Mudança criada junto à Gerdau, foram definidas três frentes de trabalho: Disponibilização do Pasto Apícola, Fortalecimento de Associações e Cooperativas, Articulação de Parcerias Estratégicas. 

No primeiro eixo, apoiamos a inovação tecnológica e a implementação de uma ferramenta de georreferenciamento para implantação das caixas. Além disso, apoiamos as associações e a empresa na melhoria da comunicação e repasse de informações.

No segundo eixo, apoiamos as associações a criarem um senso de coletividade e pertencimento, mediando conflitos e buscando sonhos em comum. De forma conjunta, apoiamos no aprimoramento técnico, com o uso de planilhas financeiras, implementação de reuniões mensais, prestação de contas, visitas técnicas a outras associações e capacitações sobre manejo e extração do mel.

“A atuação de vocês no deu firmeza e certeza do caminho que estamos indo” – Nezão, APIONG

“Não tem um dono, é nosso. É de todos!” – Luciano, APIS Minas

No último eixo, apoiamos no diálogo das associações com parceiros públicos, abrindo caminho para investimentos financeiros e maior atenção ao público da apicultura. No caso da Gerdau, apoiamos o início da criação de uma rede de reflorestadoras para o compartilhamento de boas práticas entre empresas do setor.

“Que felicidade de ver esses meninos animados em fazer camiseta porque vão para uma reunião! Nossa, estou deslumbrada, parece que agora eles estão animando de verdade. Tudo depende de motivação né??” – Leidiane, assessora de campo e apoiadora antiga da APIS Minas

“Excelente oportunidade de conhecimento mútuo. Vamos apoiar eles, mas o tamanho do apoio vai depender da participação deles e do retorno dos investimentos” – Alex, representante da CODEVASF

Nós da Mandu acreditamos na Geração de Valor Compartilhado e, por isso, demos um foco especial para fortalecer a ideia do Programa, tanto internamente à empresa, quanto externamente. A cocriação da Teoria de Mudança foi fundamental para definirmos os objetivos, o impacto desejado e os indicadores do Programa.

Como resultados, destacamos o aumento de quase 30% de participantes nas associações, a implantação das reuniões mensais, a atração de investimento de cerca de R$300 mil reais via CODEVASF e mais de dez parcerias ativadas com parceiros locais, regionais e nacionais.  

Finalizamos o ciclo com os apicultores muito inspirados! Uma das associações já recebeu a estrutura da casa de mel de container na propriedade coletiva cedida pela prefeitura, enquanto a outra já firmou a parceria e deve receber em breve.

“Eu vou te ser sincero, de tudo que eu fiz pela associação, hoje foi o dia que me deu mais orgulho. (…) Me sentia um pouco constrangido quando as pessoas me pediam o nosso endereço e eu dava o da Câmara Municipal. Hoje, pela primeira vez, eu peguei um documento que consta o endereço da associação. Esse é o nosso local, deu cara para nossa associação, depois de alguns anos de batalha!” – Daniel, associado da APIONG

Contando os apicultores e suas famílias, são mais de 120 pessoas impactadas pela apicultura, com uma produção acima da média do Brasil (20 kg por colmeia / ano), com mais de 2.500 colmeias implantadas na área da Gerdau de maneira totalmente segura.

Os apicultores têm se mostrado mais abertos ao diálogo e solícitos para a criação de novas parcerias. As associações têm se mostrado como grupos mais coesos e com objetivos comuns. No entanto, esse é um processo longo e muitas vezes não linear. Mesmo assim, a Mandu tem confiança que os apicultores seguirão o trabalho, por terem visto quantas conquistas são possíveis quando estamos juntos.

No caso da APIONG, a associação foi criada em 1997 e há, até hoje, membros da época de criação, que sempre acreditaram na apicultura, mesmo quando era muito desvalorizada, ou quando diziam que “a apicultura era coisa de louco!”, como nos contou João, presidente da APIONG. Hoje, é um presente para nós poder apoiar essa gente que luta e que tem esperança!

Para os apicultores, a sua atividade tem como maior professora, adivinhem: as próprias abelhas! Eles acreditam que a floresta de pé é sua maior aliada, então fica aqui o lembrete: precisamos preservar nossa natureza, tão necessária para nós, para as abelhas e para o futuro que há por vir!

Agradecimentos especiais aos parceiros do projeto: EMATER, CODEVASF, COOPEMAPI, SAMARRA, Prefeitura de Olhos D’Água, Secretarias de Meio Ambiente, Assistência Social e Agricultura, Câmara de Vereadores, Prefeitura de Três Marias, Secretarias de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico e Assistência Social, APIGUAR, SENAR e SEBRAE.

Sophia Noronha é educadora popular, ativista e analista especialista em associativismo e políticas públicas na Mandu social