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Uma folha e mil e uma utilidades. Experimente pesquisar no Google a palavra “jaborandi” e verá a quantidade de páginas discutindo os benefícios do uso dessa planta em diferentes áreas da medicina. A lista é extensa e para consumir o Pilocarpus microphyllus – o jaborandi – em sua forma natural, como remédio ou produto estético, alguém, ou um grupo, precisa manejar árvores para a coleta dessa riqueza. Fazer essa extração de forma sustentável, segura e sem danos para a natureza e para o homem exige cuidados e conhecimentos dos mais diversos.

Esse olhar atento ao meio ambiente, às indústrias que precisam das substâncias extraídas do jaborandi e todo o conhecimento em relação à gestão e processos de negócios sociais levou o ISES à Parauapebas (PA), com o intuito de desenvolver a Cooperativa dos Extrativistas da Flona dos Carajás (COEX) junto à Vale, mineradora multinacional brasileira. Em 2014, quando o trabalho começou, a cooperativa tinha 30 membros, pouca estrutura para armazenamento para as folhas pós extração e apenas um cliente da indústria farmacêutica.

A atuação do ISES e da Vale teve um impacto nas condições de trabalho dessas pessoas da região e foi além: preservar e fazer a extração das folhas de modo correto é essencial, uma vez que a pilocarpina retirada do jaborandi serve para a produção de um colírio utilizado no tratamento do glaucoma (uma lesão do nervo óptico que pode provocar a cegueira). O mais interessante é que essa substância não consegue ser reproduzida em laboratório e é tão específica que, para esse fim, só é possível usar a pilocarpina extraída da planta nativa.

Por conta disso, o jaborandi encontra-se na lista das espécies ameaçadas de extinção, sendo necessárias ações para sua conservação genética e uso sustentável. A Floresta Nacional (Flona) de Carajás, é uma Unidade de Conservação (UC) administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e a atuação do ISES com a cooperativa é parte das ações do Programa de Conservação do Jaborandi Nativo da Flona de Carajás. A iniciativa começou em 2012 e tem como objetivo realizar o monitoramento da espécie para garantir que a atividade extrativista não gere impactos negativos.

A evolução da cooperativa

Até 2016 o trabalho com o grupo de extrativistas foi para melhorias em todo seu processo, desde a extração até a saída das folhas de jaborandi para os clientes. Com o investimento, uma sede foi construida com galpão para armazenamento, espaço para separação e secagem das folhas, câmara refrigeradora para sementes, copa e escritório. Além disso, equipamentos para coleta facilitou o dia a dia dos cooperados que retiram as folhas de jaborandis (que podem chegar a até 2 metros de altura). A compra de um caminhão melhorou a logística de entrega e compras para manutenção da sede.

Tudo foi pensado para funcionar de ponta a ponta. Além da construção da sede e maquinário, houve uma movimentação interna para melhorias na gestão de pessoas e finanças e no relacionamento com clientes. Também foi elaborado material gráfico de divulgação, houve avanços com precificação e na estruturação do planejamento. A organização jurídica, também foi importante porque a cooperativa foi criada em 2010, mas precisava de uma revisão em seu estatuto interno. Outro ponto de destaque nesse caso é que a sede tem estrutura para comportar diversas sementes e, atualmente, mais de 300 espécies estão armazenadas sendo são vendidas para a Vale e outras empresas.

Julianna Colonna, consultora do ISES, acompanhou de perto a evolução do grupo, que hoje conta com mais de 40 cooperados, e acredita que esse foi um investimento estruturante. “As lideranças hoje são maduras e desenvolveram bom olhar para o mercado, sabem negociar e entendem a importância do seu trabalho e produto. As palavras aqui são empoderamento e autonomia”, contou.