Skip to main content

Investir em um negócio social é apostar em mudanças que vão além dos muros do empreendimento. Oferecer infraestrutura, maquinário adequado, conhecimento em gestão e planejamento ajuda para a conquista de mercados, mas pode significar muito mais. Para 27 moradores do povoado de Carrilho, em Itabaiana (SE), envolvidos no beneficiamento de castanhas, o apoio externo representou a saída da produção artesanal para a industrial, mudou as condições de trabalho, antes precárias, e trouxe qualidade de vida para cada uma dessas famílias.

O beneficiamento da castanha de caju já é tradição nessa região: cerca de 90% da comunidade do Carrilho depende dessa produção. A castanha chegou em Itabaiana há cerca de cinquenta anos e acabou se instalando de vez em Carrilho, nas chamadas “casinhas” onde a castanha é preparada. O que acontece é que o clima local não permite o plantio dos cajueiros e as frutas são trazidas da Bahia e do Piauí. Uma vez adquiridas, cada família em sua “casinha” separa as castanhas dos cajus e utiliza o forno para secá-las, em seguida as castanhas são quebradas manualmente e preparadas para a venda em grandes sacos.

Nessa história dois pontos chamavam a atenção e precisavam ser revistos: as condições de trabalho pouco seguras nas “casinhas” e a forma com que as castanhas chegavam e saiam da comunidade, por meio dos atravessadores – que vendem a matéria prima e depois compram o produto em sacos por valores que, por muitas vezes, deixam o beneficiador da castanha em desvantagem. Em 2013, esse cenário começou a mudar com o incentivo vindo do Programa ReDes.

Parceria com resultados

Realizado pelo Instituto Votorantim e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com a parceria do ISES, o ReDes está presente em 29 localidades do Brasil com investimento em 55 projetos de desenvolvimento local e geração de renda. O papel dos consultores do ISES nesse programa é a aplicação do conhecimento especializado, atuando na ponta para que grupos produtivos se tornem verdadeiros negócios de impacto social. No caso desses 27 beneficiadores de castanha, as mudanças  mostram que a iniciativa vem rendendo bons frutos.

Ao longo de quatro anos uma mini fábrica foi construída com o equipamento necessário para a produção e o ISES acompanhou todo esse processo ajudando na parte burocrática com a conquista de licenças e selos importantes. Além disso, cuidou, junto aos membros do grupo, da formalização da Cooperativa de Beneficiários de Castanha de Carrilho (Coobec). O trabalho da equipe também permitiu diversas capacitações em gestão e planejamento estratégico para o funcionamento da produção e relacionamento com fornecedores e clientes. A produção antes focada em sacos a granel (de 25 quilos) hoje possui embalagem personalizada com tabela nutricional, selo de inspeção federal e é diversificada com pacotes de 40,100 e 200 gramas para agradar mais mercados.

Atualmente, a Castanha do Carrilho é uma marca que não para de crescer. Com a sede, os maquinários e equipamentos de segurança adquiridos, os cooperados atuam em melhores condições de trabalho. A autonomia, profissionalização e produção em maior escala fizeram com que a cooperativa conseguisse aumentar sua distribuição e a diversidade de produtos: além das castanhas naturais, as castanhas doces, salgadas e apimentadas estão em hotéis e supermercados da região e já chegam aos estados da Bahia e Alagoas. O ISES esteve envolvido e auxiliou em todas as negociações para expansão, principalmente com o mercado varejista. Nesse setor, o primeiro grande cliente conquistado foi a rede GBarbosa e, recentemente, o grupo Pão de Açúcar fechou contrato por meio do Programa Caras do Brasil que passou a levar a Castanha do Carrilho para 72 lojas da rede em todo o país.

Maria Cristina da Silva é a presidente da Coobec e só tem o que comemorar. “A mudança é impressionante e não poderíamos estar mais felizes. Eu acredito muito no produto e acho que estamos no caminho certo. O que sabemos é beneficiar castanha, então só faltava essa organização para expandir. Meu sonho é servir de exemplo para aqueles que ainda não integram a cooperativa e também para outras comunidades: é possível viver da castanha com um processo produtivo mais humano, com maior retorno financeiro e que seja bom para todos ao redor do negócio”, concluiu.

Conheça a Coobec

Saiu na mídia

Matéria no Portal G1 Globo Rural: Trabalho coletivo muda a rotina de beneficiadores de castanha em SE

Reportagem para o Jornal do Estado na TV Atalia: Castanha de caju sergipana é escolhida para representar o Brasil na França